Artigos Artigos e trabalhos jurídicos

A EMPRESA E O NOVO PERFIL DO EMPREGADO NO MUNDO GLOBALIZADO

18/12/2012

Maria Madalena Duarte da Silveira*


I. Introdução


A globalização é um processo que se não caminha com a rapidez de um supersônico, tem andado a passos tão largos que tudo dentro da empresa deve ser a cada dia repensado, para que a mesma não corra o risco de tornar-se obsoleta e desaparecer.
Como salienta Erich Supper, o processo globalizante tem alcançado rapidamente todo esse dinamismo , como resultante de vários fatores : o rápido progresso na liberação de políticas de comércio e investimento em muitos países, incluindo políticas de ajuste estrutural dos países em desenvolvimento e políticas de reforma econômica, bem como um deslocamento a políticas globais por parte das empresas transnacionais ao fazerem uso de novos oportunidades criadas por esse processo de liberalização; o rápido avanço tecnológico nos setores de informação e telecomunicações torna possível operações a nível mundial.
Esse processo liberalizante deu início a uma intensificação da competição internacional, o que por outro lado gerou a necessidade para as empresas de se transformarem, com constantes inovações em seus produtos e serviços, buscando a eficiência máxima e uma crescente produtividade, premidas pela competitividade mundial.
Essas transformações internas e externas das empresas, têm neste últimos anos passado por estágios: passou do enxugamento das grandes estruturas internas com a conseqüente diminuição dos postos de trabalho; a redução de outros custos nas áreas produtivas , a modernização e automação dos setores da indústria e serviços, na busca da manutenção e sobrevivência , especialmente da maioria das "empresas nacionais " , que não estavam preparadas para uma competitividade não só interna , mas também no cenário internacional.
Todo esse processo de mudanças tem gerado interna e externamente insegurança e insatisfação para os atores sociais envolvidos.

II - A Ruptura do antigo padrão de gestão empresarial

As mudanças apontadas com a globalização , trazem para os participantes deste quadro (empregados e empregadores) uma nova realidade social , que não produziram ainda os efeitos desejados, já que ainda não houve uma adequação aos novos padrões de comportamento ditados pelas necessidades globais, tanto ao nível de concepção da nova gestão empresarial, como aos empregados que deverão ter um novo perfil .
" O antigo agente de mudanças está ultrapassado, bem como o antigo ambiente de mudança. O agente de mudança podia no passado ajudar a levar a uma empresa a fazer coisas melhores, mais rápidas e mais baratas. Podia levar a empresa a uma melhora de desenvolvimento, com o corte de custos, questionando as práticas ruins, e usando novas tecnologias, substituindo tarefas antigas, para assim pouco a pouco levar a empresa para junto de seus clientes. Mas a cultura da mudança, assim como o processo da mudança nestes moldes é limitado e mecânico , havendo neste momento necessidade das gestões empresariais serem mais ousadas , pois as mudanças nas empresas devem ser contínuas
Fazer algo mais barato e melhor não é mais a meta , porque esse algo muda o tempo todo. O administrador deve estar alerta e concentrar-se menos em produtos e mercados específicos e mais na prontidão da organização. A empresa "toda" tem que estar atenta para identificar tecnologias ou mercados emergentes , e mover-se num piscar de olhos.
Para que as mudanças aconteçam na empresa com a mesma velocidade das mudanças mercadológicas, faz-se necessário que os paradigmas antigos e até então, indiscutíveis de organização hierárquica, sejam revistos por empregados, empregadores ou seus representantes, aceitando estes os novos desafios , a fim de que com isso resulte em benefícios a todos os envolvidos.
O questionamento presente é como liderar bem uma equipe inovadora que traga benefícios imediatos para a empresa e para os empregados, com satisfação mútua de resultados?
" Os estudos de gestão mostram que não se conseguirá tais resultados com um chefe viciado no sistema de comando e controle, e sim um novo tipo de treinador e facilitador. Este tipo de líder ainda não está engendrado em todas as organizações, sendo contestado, porque o sistema " taylorista e cartesiano " continua habitando a cabeça de muitos dirigentes. É um pressuposto que para " saber mandar " o chefe deve ser exigente e durão "
A nova realidade é esta: para se enfrentar a competitividade dos mercados locais e mundiais exige-se no campo da gestão mudanças substanciais de conceito: a gestão deve ser flexível, pois só na flexibilidade os gestores encontraram as saídas necessárias para comporem um quadro de funcionários que façam da empresa, a melhor, a mais ágil nas tomadas de decisões que hoje é imperativo no mundo globalizado.

III- O novo perfil do empregado ideal em tempos de globalização

A gestão empresarial clássica do tipo "fordiana" está em crise. Fábricas verticais absorventes atuando através de rígidas hierarquias, onde as ordens são matematicamente seguidas já são coisas do passado. O novo perfil do funcionário na ordem global deve ser aquele de uma pessoa ousada, criativa que não obedece somente as ordens para as mudanças , mas que as propõe, em busca de crescimento e também agilidade na empresa . Deve ser, portanto, um " rebelde corporativo" .
As mudanças na empresa exigem maior audácia, e até mesmo certo entendimento por parte das chefias no que tange ao modelo hierárquico clássico. O melhor e o mais criativo dos funcionários não está mais necessariamente na cadeia hierarquizada da organização empresarial . Administrar bem , hoje, não significa estar no comando diretivo com todas as regras impostas pela doutrina tradicional trabalhista.
O empregador ou seus prepostos tinham na organização empresarial um poder diretivo quase que absoluto. O poder de direção, como preleciona Amauri Mascaro do Nascimento, " é a faculdade atribuída ao empregador de determinar o modo como a atividade do empregado , em decorrência do contrato de trabalho, deve ser exercida.
O poder de direção manifesta-se mediante três principais formas: o poder de organização, o poder de controle sobre o trabalho e o poder disciplinar sobre o empregado.
O poder de organização da atividade do empregado, combinando-a em função dos demais fatores da produção, tendo em vista os fins objetivados pela empresa, pertence ao empregador, uma vez que é da própria natureza da empresa a coordenação desses fatores.
O poder de controle dá ao empregador o direito de fiscalizar o trabalho do empregado. A atividade deste, sendo subordinada e mediante direção do empregador, não é exercitada do modo que o empregado pretende, mas daquele que é imposto pelo empregador; e finalmente o poder disciplinar é o direito do empregador de impor sanções disciplinares aos empregado .
Os conceitos e aplicabilidade das definições clássicas do poder de organização e controle pelo empregador na empresa , devem ser administrados com reservas e flexibilidade, pois ter em mãos o poder diretivo da empresa não significa estar na prática com uma empresa ágil , dinâmica e pronta para a execução das manobras necessárias no momento certo. O poder diretivo no mundo globalizado não pode estar concentrado nas mãos somente de poucos que comandam a empresa, mas deve estar distribuído a todos os empregados em uma escala maior ou menor, pois o caráter criativo e a execução instantânea lhes impõem que assim seja.
O empregado deve ser um " rebelde corporativo" , expressão usada não na conotação pejorativa, mas com o significado de uma rebeldia saudável no sentido da criatividade e da inovação. Segundo a nova concepção, o rebelde corporativo busca agilidade , no sentido de fazer a empresa concentrar-se na capacidade de manobrar e mudar de direção na hora certa. Ao invés de cortar custos, o rebelde corporativo deve explodir a organização e colocá-la na competitividade com as suas concorrentes. Seu trabalho é de transformação : transformar, por exemplo uma empresa velha em uma empresa on-line . Não deve trabalhar conduzido por uma hierarquia pré-determinada , deve agir e criar onde estiver sempre em busca de novas oportunidades para a empresa .
Pela velha concepção, muitos funcionários, mesmo que eficientes, dependiam do cargo ou a sanção oficial de seus empregadores ou subordinantes para implementar programas de mudanças . A rebeldia corporativa não depende de hierarquia formal e sim, de grandes idéias, visões poderosas e exemplos audaciosos. É impossível aos gerentes, altos executivos ou empregadores diretos saberem tudo dentro da organização, por mais capacitados que sejam. Por isso, este é o grande momento de criarem ambientes saudáveis para que "cresçam e apareçam" os rebeldes corporativos que , embora podendo ser empregados simples ou graduados, serão sempre os aliados da empresa em todas as situações, especialmente na criatividade se esta for estimulada.
Todas as empresas têm necessidade de novas idéias, novas formas de pensar, seus produtos, seus serviços, seus clientes para poderem continuar a competitividade darwiniana . Funcionários muitas vezes, julgados pouco brilhantes, podem ter idéias revolucionárias, que mudarão o "status quo" da empresa , questionando práticas de rotina . Isto pode ser a idéia genial , a "grande fórmula" que faltava para resolver, por exemplo, os problemas dos clientes insatisfeitos de uma empresa . . .
A satisfação de poder contribuir, ser parceiro na gestão e no desenvolvimento da empresa fará com que o empregado, motivado pela aceitação de suas idéias, crie um ambiente contagiante que , com certeza, motivará os demais funcionários.

IV - Conclusão

A postura dos empregadores ou executivos que gerenciam, é tomarem consciência de que algumas mudanças devem ser postas em práticas no que tange à conduta gerencial, sem que com isto, corram o risco de estarem perdendo poder, pois hoje, o poder deve ser eqüitativamente dividido entre todos aqueles que participam em maior ou menor grau dentro da empresa.
Na velha economia, liderança significava autoridade formal; na nova economia, o poder vem do conhecimento e da criatividade. Os rebeldes corporativos podem e devem estar em qualquer lugar .
O poder está nas mãos das pessoas que dominam o mercado. Essas pessoas, via de regra, são as que estão mais próximas dos clientes para saberem o que os mesmos querem e identificar rapidamente as mudanças necessárias que devem ser feitas na empresa.
Os melhores executivos estimulam a rebeldia corporativa em toda organização, estimulando seus empregados a criarem e premiando-os com isso. O poder, muitas vezes, está mais concentrado nas mãos dos tecnólogos. Estes podem ajudar a empresa a ter um melhor desempenho para enfrentar a competitividade.
Estimulando sempre os trabalhos de equipe, os rebeldes corporativos não são mágicos que agem sozinhos , mas vendem suas idéias para cima, para fora e aproveita as boas idéias dos outros empregados para inovar, criar e mudar. Podem levar toda organização a uma série de benefícios, estimulando as mudanças sem as resistências normalmente encontradas.


* Advogada, especialista em mercado financeiro,
Mestre em Direito do Trabalho pela UNIMEP- Piracicaba

Outros Artigos